O Enigma do Sofrimento

Após um mês... inevitavelmente tinha que escrever sobre este tema.
"Tudo o que podia correr mal, correu mal. Termómetros acima dos 40 graus, instabilidade atmosférica, uma tempestade seca com vários raios a cair em árvores, ventos instáveis a soprar forte. A tragédia de Pedrógão Grande resulta de uma combinação de fatores que dificilmente poderiam ser contrariados pela ação humana." CM
"Num lugar como este, as palavras falham.
No final, resta somente um silencio assustador,
um silencio que é um apelo sentido a Deus-
Porquê, Senhor, permaneceste em silencio?
Como pudeste tolerar isto?"...
Bento XVI, Auschwitz, Maio 2006
Ecoam estas e outras interrogações em cada um de nós, e colocadas muitas vezes a Deus, sobre a existência, a causa e a razão do sofrimento. O sofrimento acompanha o homem desde a sua origem. No entanto, a perplexidade e o horror que nos causa, o nosso e o dos outros, leva-nos a reagir contra, não o queremos, não queremos nem pensar nele mas queremos, isso sim, uma explicação! Na esperança de que essa explicação nos leve a compreende-lo e a aceitá-lo. E, perante a noção de que Deus é o Bem Supremo, a representação do Amor Paterno, ainda para mais sendo Omnipotente e Omnipresente, mais complicado se torna compreender a existência do sofrimento como realidade da vida humana.
Muitas vezes confundimos dor com sofrimento. Mas, dor e sofrimento são coisas bem diferentes. A dor faz parte da vida como resposta aos excessos e desgaste do corpo físico. É a desagradável e por vezes penosa sensação resultante de uma lesão, ferimento, contusão ou mau funcionamento de um órgão que, por extensão, nos leva a sentimentos de tristeza, aflição e mágoa podendo repercutir de forma mais ou menos intensa conforme a resistência e personalidade do individuo.
Pode existir dor sem sofrimento e sofrimento sem dor. A dor faz parte da vida, tem como finalidade protege-la, não há como evitá-la. O sofrimento, não.
O sofrimento pode ser diminuído, atenuado e até evitado. Tudo depende de nós. Só temos que trabalhar os nossos pensamentos, crenças e emoções.
Allan Kardec em “O Evangelho
Segundo o Espiritismo” explica que a origem do nosso sofrimento, parte de duas fontes
distintas: as que são geradas na vida presente e as que têm origem em
existências passadas.
Para conhecer a causa do
sofrimento actual e que poderá ter origem noutras reencarnações, basta consultar a nossa consciência, o nosso Eu Superior, que a todo momento nos fala. Estar atento (a) e observar o que nos rodeia, o que vemos, ouvimos e sentimos, o que faz parte de nós, situações e circunstâncias, sentir de coração aberto e aceitar...
Mas, na maioria das vezes, os nossos tormentos e aflições são
reflexos das nossas decisões, acções ou omissões e palavras (pecamos por pensamentos e palavras actos e omissões), das atitudes egoístas, do orgulho e da
vaidade que ainda domina o nosso íntimo (Ego). Os maiores males são aqueles que o homem cria para si mesmo, pelos seus próprios vícios, aqueles que provêm do seu orgulho, do seu egoísmo, da sua ambição, ganancia, e estupidez, de seus excessos em todas as coisas. E esta forma de viver trás consequências, toda a acção, mais tarde ou mais cedo, causa uma reacção. Ou seja, o homem vai receber, sentir e vivenciar tudo o que causou. Cá se fazem, cá se pagam! Lá diz o povo.
Então devemos interpretar o nosso sofrimento como uma espécie de punição?
Não. O sofrimento deve deixar de ser envenenado por falsas noções e pré-conceitos. Sofremos para evoluir com responsabilidade, com consciência, mas isso também não quer dizer
que o sofrimento seja a única condição para se chegar à perfeição humana ou espiritual. Ninguém em sã
consciência busca o sofrimento para si mesmo, no entanto, por ainda sermos
imperfeitos, podemos falhar, e Deus, em sua infinita bondade, concede-nos
sempre uma nova oportunidade, para que através do nosso esforço consigamos
progredir. Devemos portanto, encarar o sofrimento como oportunidade de
regeneração.
"Dor corrige, educa, aperfeiçoa, exalta, redime e glorifica o
sentimento humano a cada vibração que lhe extrai através do sofrimento. (Léon Denis)
Então, como devemos agir perante o sofrimento?
Com oração, procurando o caminho da luz. Nunca com revolta por mais difícil que seja controlar esse e outros sentimentos de baixa energia. Considerando as nossas aflições como um mecanismo necessário para a evolução. Devemos procurar manter o positivismo, e sobretudo a fé na certeza de que não há mal que perdure e o bem supera sempre. Os momentos difíceis, também são oportunidades para testemunhamos a nossa fé.
Deus não nos abandona e também não designa fardos pesados a ombros frágeis.
Depois da tempestade, dure ela o tempo que durar, vem sempre a bonança.
O sofrimento é, muitas vezes, útil e essencial para nos levar à razão e à verdade nua e crua. Aquela que não queremos ver nem aceitar. Aquela que nos parece impossível de ser... Deus é criador, amor e pai por isso toma muito a sério a educação de seus filhos, feitos à sua imagem e semelhança...
Saint-Exupéry exprime-se da seguinte forma: "Para que eu me conheça, basta, Senhor, que Tu coloques em mim a âncora da dor/ sofrimento. Tu puxas a corda e eu desperto imediatamente."
A chave para a felicidade está em nossas
mãos.
Referencia Bibliográfica: O Enigma do Sofrimento, Georges Stéveny, Publicadora Servir, Agosto 2008.
Webgrafia: O sofrimento https://www.kardecriopreto.com.br/por-que-sofremos/
Comentários
Enviar um comentário